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Iogurtes e pudins proteicos: Quais as vantagens? E os riscos?

28 Dez 2023 - 08:00

Iogurtes e pudins proteicos: Quais as vantagens? E os riscos?

Nos últimos anos, os iogurtes e pudins proteicos ganharam destaque nas prateleiras de supermercados. Associados a um estilo de vida ativo e recomendados a quem faz exercício físico regularmente, estes produtos são comercializados por várias marcas e estão disponíveis em dezenas de sabores. Mas quais os seus benefícios? E há riscos em consumi-los?

O que são iogurte proteicos?

Estes produtos “não são iogurtes na sua natureza”, afirma nutricionista Filipa Vicente, professora auxiliar do Instituto Egas Moniz, em declarações ao Viral.

Enquanto o iogurte é feito através da fermentação do leite com duas bactérias (Lactobacillus bulgaricus e Streptococcus thermophilus), o iogurte proteico resulta de uma “mistura de iogurte ou leite fermentado com queijo fresco batido”, podendo conter, “em alguns casos, proteína em pó” (normalmente oriunda do soro de leite).

É este processamento diferente que torna os iogurtes hiperproteicos: “O iogurte [comum] tem em média quatro gramas de proteína por cada 100 gramas”, enquanto o iogurte proteico pode variar entre os seis e os 11 gramas de proteína por cada 100 gramas, adianta a nutricionista.

Já os pudins proteicos podem ser produzidos “a partir de leite e ovos”, tendo também na sua composição “coagulantes e espessantes”.

Quais as vantagens dos iogurtes e pudins proteicos?

O recurso a iogurtes e pudins proteicos pode ser vantajoso para quem procura aumentar a quantidade de proteína ingerida diariamente – seja por défice, por necessidade acrescida ou como substituto da carne ou peixe (caso tenham dificuldade em ingerir estes alimentos). 

A nutricionista Filipa Vicente esclarece que estes “produtos são essencialmente uma fonte proteica de conveniência” que permite “assegurar uma ingestão proteica acrescida, por exemplo, para um atleta”.

“A necessidade proteica para um indivíduo sedentário é diferente da necessidade proteica para um indivíduo fisicamente ativo, mas dentro da prática desportiva há muitos níveis diferentes (alguns não requerem ingestão acrescida)”, prossegue a nutricionista, destacando a necessidade de as pessoas adequarem “a porção à sua necessidade”.

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No mesmo sentido, José Camolas, membro do Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, identifica os desportistas como um dos principais públicos-alvo deste tipo de produtos que podem ser usados quando os atletas “precisam de fazer uma refeição mais leve ou um snack que seja, ao mesmo tempo, rica em proteína”.

Os iogurtes e pudins proteicos podem ainda ser uma boa opção para adultos e idosos “em situação de desnutrição”, que tenham “dificuldade no consumo de peixe ou carne” e que precisem de “enriquecer o consumo de proteína”. 

A textura líquida ou pastosa que caracteriza estes produtos pode “facilitar a ingestão e deglutição” destes alimentos, sublinha o membro do Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas.

Estes alimentos hiperproteicos podem também ser opções “interessantes” a incluir em planos de emagrecimento, nomeadamente como “opções alternativas a sobremesas”, acrescenta Filipa Vicente. Têm também efeitos ao nível da saciedade.

Para a população em geral, os dois nutricionistas não identificam vantagens no consumo regular destes produtos. José Camolas afirma que é “questionável a necessidade destes produtos em termos nutricionais e num âmbito de saúde pública”, uma vez que “não existem dados que digam que a população [portuguesa] tem um consumo baixo de proteína”.

Segundo o mais recente Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (2015/2016), mais de 60% dos homens e 50% das mulheres apresentavam uma ingestão de proteína “de acordo com as recomendações”. 

A faixa etária que apresenta uma maior percentagem de défice proteico é a dos os idosos, com cerca de 49% a ingerir menos de um grama por quilo – quando o valor referência ronda os 0,8 gramas por quilo.

José Camolas lembra que “o consumo destes produtos não é necessariamente inócuo e deve ser ponderado individualmente e em cada caso”.

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Os iogurtes e pudins proteicos têm riscos para a saúde?

O consumo esporádico de um iogurte ou um pudim proteico não traz consequências para a saúde. No entanto, se houver uma ingestão exagerada e prolongada destes produtos sem que haja um défice proteico, poderá ultrapassar-se as doses recomendadas de proteína, o que tem consequências para a saúde.

“O consumo excessivo de proteína tem riscos”, alerta José Camolas, referindo que, quando ingerida de forma exuberante, a proteína pode provocar “uma sobrecarga renal” e potenciar “a excreção de cálcio” – necessário para manter os ossos fortes e saudáveis.

Uma dissertação da Universidade Católica de Lisboa analisou o mercado português de iogurtes proteicos, concluindo que a quantidade de proteína dos produtos à venda atualmente varia entre 6,7 e 11,3 gramas de proteína por 100 gramas de produto. De referir que cada embalagem de iogurte poderá ter entre 150 e 200 gramas de peso.

Tendo em conta o valor de referência – cerca de 0,8 gramas por quilograma – analisemos dois cenários: se um homem com 70 quilogramas comer três iogurtes ou pudins proteicos, com cerca de 20 gramas de proteína cada, ficará já acima da dose diária recomendada de proteína (neste caso, 56 gramas); se uma mulher com 55 quilos ingerir apenas dois iogurtes ou pudins proteicos, irá também ultrapassar a dose diária recomendada (44 gramas)

Fora destes cálculos fica a ingestão de proteína característica das duas refeições principais (almoço e jantar) que, normalmente, contêm carne ou peixe. Para um indivíduo sedentário e sem défice proteico prévio, esta situação poderia levar a um consumo excessivo de proteína.

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Além disso, Filipa Vicente acrescenta que estes produtos contêm edulcorantes não nutritivos que – apesar de a evidência científica ser “ainda precoce” – podem “ter efeitos prejudiciais na flora intestinal e nos recetores de gosto” quando ingeridos de forma “continuada e em doses elevadas”.

Por essa razão, a professora de nutrição sublinha que estes produtos “devem ser vistos como convenientes e práticos para diversificar e não como obrigatórios”.

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Alimentação

28 Dez 2023 - 08:00

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